Os cátaros formaram a sociedade secreta mais “popular” da Idade Média. Alguém falou em heresia? Para esses cristãos, herege era o papa. “Eles se julgavam herdeiros dos apóstolos e foram condenados por isso”, escreve Mark Gregory Pegg em The Corruption of Angels (“A Corrupção dos Anjos”, inédito no Brasil), que narra a trajetória da seita.
BONS HOMENS
No século 12, 4 paróquias de Languedoc abandonaram formalmente o credo católico, abraçando as novas idéias: Toulouse, Carcassone, Albi e Agen. Por causa das duas últimas, o movimento acabou sendo chamado também de albigense. A palavra “cátaro”, porém, só entrou para o vocabulário medieval por volta de 1160, graças a um pregador católico da Renânia chamado Eckbert de Schönau – emérito detrator da seita. Segundo uma de várias versões, o termo viria do grego katharoi, que significaria “os puros”. A história mais aceita, contudo, é bem menos lisonjeira. Segundo Alain de Lille, um teólogo francês do século 13, sua origem estaria na palavra catus (“gato” em latim), pois os seguidores da seita “faziam coisas ignóbeis em seus conciliábulos, como beijar o traseiro de gatos”.
Os novos fiéis estavam se lixando. Eles se autodenominavam bons hommes e bonnes femmes (“bons homens” e “boas mulheres”). E repudiavam o termo “cátaro”. Os padres se vestiam com hábitos negros. Rejeitavam o dogma da Santíssima Trindade e também os sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o matrimônio. E viam com naturalidade o sexo fora do casamento. “Se a castidade não pudesse ser priorizada, era melhor manter encontros casuais do que regularizar oficialmente o mal”, diz a historiadora Maria Nazareth de Barros, autora de Deus Reconhecerá os Seus: A História Secreta dos Cátaros. A nova crença também arregimentou adeptos na Catalunha, na Alemanha, na Inglaterra e na Itália.
FOGO DIVINO
O incidente foi a gota d’água. No mesmo ano, o Vaticano autorizou uma guerra santa contra Languedoc – a primeira e última cruzada contra cristãos da história. No cerco a Béziers, em julho de 1209, 7 mil fiéis foram chacinados, entre eles mulheres e crianças. Em 1244, 200 cátaros foram queimados vivos numa grande fogueira nas redondezas da fortaleza de Montségur. A tortura era generalizada. O interrogador católico Guilhem Sais, certa vez, afogou uma mulher cátara num barril de vinho, pois ela não queria confessar seus supostos pecados.
A Igreja precisou de décadas, mas conseguiu varrer os cátaros da face da terra. No coração dos habitantes de Languedoc, porém, a seita sobreviveu. O povo daquela região é do contra, lembra? Até hoje, em cidades como Montpellier e Toulouse, os revoltosos viraram até nome de rua: des Heretiques (dos Heréticos) na primeira e des Cathares (dos Cátaros) na segunda. Custou a vida de muitos, mas eles conseguiram sua revanche contra o papado. “Se existe uma coisa que os cátaros nos ensinaram”, diz Pegg, “é que as fronteiras da heresia são móveis, e que devemos ousar alargá-las.”
Fonte: Revista Super Interessante
Muito bom Violeta, Você sempre manda muito bem, já estava com saudades das suas postagens!!!!
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